E se fosse uma mulher?
Em 2018, viralizou na China o caso de um homem que se passava por mulher em aplicativos de namoro. Conhecido na internet como Sister Hong, ele usava filtros femininos e trejeitos para atrair outros homens a encontros presenciais — que eram filmados sem consentimento, com o claro intuito de ridicularizá-los. Quando revelada a farsa, a reação da internet foi imediata: memes, piadas e muita zombaria com as vítimas.
Mas imagine o contrário.
Se fosse uma mulher enganada, iludida por um homem que fingiu ser outra pessoa para capturar seu constrangimento, a reação seria catastrófica — e com razão. Seria chamada de violação de privacidade, haveria exigência por punição severa, debates públicos sobre abuso psicológico e até campanhas contra misoginia e violência digital.
Mas, no caso de Sister Hong, a internet riu.
E o feminismo se calou.
A Chacota Quando É com Homens
O episódio revelou mais do que um golpe digital: expôs um padrão assustadoramente seletivo na forma como lidamos com o sofrimento de homens e mulheres.
Homens foram humilhados publicamente, enganados emocionalmente, tiveram sua imagem exposta sem autorização. E ao invés de comoção, o que houve foi escárnio coletivo. Alguns foram chamados de “bobos”, outros de “fáceis”, e até celebridades fizeram piada. Era apenas “engraçado” ver homens sendo enganados por outro homem travestido de mulher.
Essa reação mostra algo que meu livro já denuncia desde a primeira página: o sofrimento masculino, quando não é violento ou extremo, não é levado a sério.
A dor do homem moderno virou meme.
Se Fosse com Mulheres, Seria Crime — Não Meme
É fundamental reforçar: a indignação que teríamos se as vítimas fossem mulheres seria legítima. Não há dúvida de que gravações sem consentimento, manipulação emocional e uso de identidade falsa para atrair vítimas são abusos graves. Isso precisa ser condenado.
Mas a pergunta é: por que não usamos o mesmo critério quando os alvos são homens?
Por que não houve campanha nas redes sociais pedindo justiça para os homens expostos?
Por que o feminismo — tão presente e combativo em situações semelhantes contra mulheres — preferiu o silêncio?
Essa assimetria revela um dos maiores pontos cegos do discurso feminista contemporâneo: a invisibilidade seletiva do sofrimento masculino. Um reconhecimento moral superficial, sem consequências práticas.
Feminismo e o Duplo Padrão
O feminismo, enquanto movimento histórico, teve e ainda tem um papel vital na luta pelos direitos das mulheres. Isso é inegável. Mas como mostro no livro Dois Lados da Verdade, há uma diferença gritante entre:
- Reconhecer que homens também sofrem, e
- Lutar ativamente para que esse sofrimento seja ouvido, compreendido e reparado.
No caso Sister Hong, a omissão do feminismo foi um reflexo disso.
Não houve pautas, nem debates, nem textos indignados nos jornais. Não houve pressão por políticas públicas, por regulamentações digitais ou por defesa da privacidade dos homens.
Houve apenas memes.
O Que Isso Diz Sobre Nós?
A verdade é que o feminismo não é obrigado a defender os homens — e talvez nem devesse. Seu papel histórico é focar nas mulheres, e isso deve continuar.
Mas quando se afirma que o feminismo é um movimento “por todos”, “em favor da igualdade” e “também ajuda os homens”, precisamos ser críticos. Se não há ações concretas, então é apenas retórica.
Como cito no livro:
“Frases não mudam realidades. Enquanto o feminismo mobiliza recursos, leis e estruturas para proteger mulheres, as dores masculinas permanecem no campo da abstração — reconhecidas, porém ignoradas na prática.”
Uma Reflexão Além dos Memes
O caso Sister Hong deveria nos levar a refletir: por que a sociedade acha aceitável expor, ridicularizar e zombar de homens enganados?
Por que a empatia é seletiva?
Por que o feminismo, quando confrontado com o sofrimento masculino, responde com teorias abstratas sobre patriarcado, mas evita ações concretas?
A resposta não está em substituir um movimento por outro, mas em reconhecer que os homens precisam de um espaço próprio, autêntico e não reativo, como defendo em Dois Lados da Verdade. Um espaço que acolha, compreenda e lute por eles — sem precisar pedir permissão a ninguém.
Indicação de Leitura
Se você se incomodou com essa realidade distorcida, se já se sentiu ridicularizado por simplesmente ser homem, ou se quer entender melhor os dois lados dessa guerra ideológica entre Redpill e feminismo, recomendo a leitura do meu livro:
📘 Dois Lados da Verdade: Redpill e Feminismo em Diálogo
🖋️ Elias Souza de Araújo
Uma análise corajosa, profunda e sem panos quentes sobre as dores masculinas ignoradas, os excessos dos discursos ideológicos e os caminhos possíveis para uma nova convivência entre os gêneros.